Coluna Saúde / Dr. Leonel Machado Paz

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Motivo de raiva, indignação e muitos outros sentimentos negativos é a “demora” do plantão. Na verdade, a experiência de procurar uma emergência é território marcado por sentimentos não muito acolhedores, medo, raiva, sofrimento, muitas vezes dor, sua ou de um ente querido, e principalmente: incerteza. Será que é grave? Por que ele não melhora? Ele vai morrer? Por que o remédio não fez efeito? Por que ainda não atenderam ele? Todas essas dúvidas e apreensões culminam na raiva da tal “demora”. E não faltarão pessoas para especular de quem é a culpa pelo tempo de espera, então vamos desvendar o plantão e mostrar alguns motivos para o tempo de espera.

A primeira coisa é entender a função do plantão, local que serve como uma das portas de entrada da saúde e se destina para casos que exigem atenção mais imediata, que não deveriam poder esperar para serem avaliados: urgências, emergências, traumas. Fora do ambiente da crise relacionada ao COVID-19, pouquíssimos casos de resfriados, diarreias, gripes e outros quadros leves deveriam ser atendidos no plantão, muito menos renovações de receitas, como a maioria dos plantões trabalham em regime de portas abertas(atendem todos que chegam) uma grande parcela de atendimentos são dessa espécie e aumentam muito a demanda.

E claro que não é só a política de porta aberta que causa isso, falta educação em saúde para a população geral e para os empregadores. Não se pode cobrar que alguém saiba que tal doença é grave e outra não é, se nunca ninguém ensinou-o os sinais de gravidade, o quanto tempo é normal ficar doente, o que é uma bactéria, um vírus, que crianças no começo da idade escolar ficarão resfriadas muitas vezes ao ano e isso não tem nada a ver com imunidade baixa. O empregador não aprendeu que é normal uma diarreia durar mais de três dias, que um funcionário gripado irá contaminar outros, que exigir atestado em todos os momentos só aumenta a demanda dos serviços de saúde sem melhorar a condição do trabalhador.
Acho que nessa altura do texto o leitor já entendeu que muitos pacientes significam mais demora, mas há outros fatores. Entre esses fatores está a gravidade que falamos anteriormente, quem tem queixas mais graves será atendido antes, um infarto vem antes do pé quebrado. Os pacientes muitas vezes recebem cores que representam a sua gravidade e prioridade de atendimento, vermelhos mais graves e com atendimento na hora até azuis que serão atendidos por último. Os pacientes de maior necessidade normalmente nem passam pela recepção, entram de ambulância e muitas vezes necessitam da atenção total da equipe por vários momentos. Não ter alguém esperando nas cadeiras do plantão não significa que dentro não está muito complicado, sem mencionar que podem ter pacientes na emergência sendo observados e tomando medicação e exigindo mais atenção.

Outras observações que podemos fazer são: 1- Horários perto das 7h e 19h serão mais caóticos pois são momentos de troca de turno, equipes tem que passar o que aconteceu, quem está em observação, quem tá esperando, quem está mais grave, quem está esperando transferência e isso leva um tempo. 2- Médicos e toda a equipe precisam ir ao banheiro, comer, plantões duram normalmente doze horas e ninguém consegue fazer isso sem seus direitos básicos. Claro que terão pessoas que abusarão disso, mas são minoria. Em relação aos médicos também preciso lembrar que muitas das transferências e discussões,nos dias de hoje, ocorrem pelo celular e computador , estar neles não significa tempo vago ou interesse particular, a maioria das vezes é sobre o paciente que as pessoas não veem e está esperando um leito. 3- Políticos que cobram prioridade para fulano ou ciclano na fila do plantão normalmente criam mais um fato para toda a equipe lidar e atrapalham o sistema já sobrecarregado. O enfermeiro estuda muito e tem muito mais capacidade para classificar e determinar a ordem de atendimento que o político aleatório da vez. 4- Eu sei que uma dor de garganta pode estar causando um transtorno na sua vida e incomodando bastante, mas na classificação do plantão a prioridade é de quem é mais grave e que está com uma doença que pode matar mais rápido, assim provavelmente o seu atendimento ocorrerá quando for possível e quem chegar depois de ti será atendido antes se tiver uma prioridade maior.

Resumindo, o plantão demora pois tem muita gente esperando, quem é mais grave é atendido primeiro e a maioria são classificados com menos prioridade. Eu sei que a maioria dos leitores gostaria que a explicação tivesse um segredo oculto, mas ainda caímos nos mesmos problemas crônicos brasileiros, falta de educação(em saúde no caso), bom senso, estrutura básica. Contratar mais médicos não é solução definitiva, tem que investir na educação desse médico e da população, na qualificação da prevenção do município, entender quem são esses pacientes e o porquê dos atendimentos, é sobre pesquisar, planejar e educar. Temos que ter paciência, garanto que na maioria das vezes todo mundo que está no plantão está dando o seu melhor possível para que todos sejam atendidos e da maneira mais rápida possível.

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